Viagens…

CRUZANDO OS STATES DE CARRO


No dia 4 de outubro de 2011, a festa dos meus 65 anos foi comemorada em Columbia, SC, onde Carlos Moura (filho), após se graduar do seu curso superior de capitao (em breve será Major do US Army), recebeu ordens de tranferência para Las vegas, onde comandará o Headquarters Company da Brigada de recrutamento do exército americano naquela regiao, no Estado de Nevada. Como ele faz aniversário no dia 3 de outubro, resolvemos registrar o momento, percorrerendo (num BMW 745 LI) mais de 10.000 quilômetros pelos Estados Unidos. Traçamos um triângulo e seguimos viagem … Para se ter uma ideia do nosso roteiro, basta olhar o mapa dos EUA e visualizar um triângulo: uma base em Miami (SE), a outra base em Las vegas (SW) e a ponta de cima (North) no Estado de South Dakota.

Estados: Flórida, Georgia, South Carolina, North Carolina. Tennessee, Kentucky, Illinois, Missouri, Iowa, Nebraska, South Dakota, Wyoming, Montana, Idaho, Utah, Arizona e Nevada.

SAÍDA

Dia 2 de outubro de 2011 – Saímos (eu e minha filha Marcella) de Miami às 11:50 da manhã, num trem da Amtrak com direção à Columbia, South Carolina. Preço da passagem; $75 por pessoa – Duração da viagem; 16 horas.
Trem é um coisa que sempre me fascinou. O carro restaurante, o vagão do bar, um salão onde as pessoas podem jogar cartas, ler livros, conversar, fazer novas amizades. O vai e vem é um momento de muita confraternização, de descobertas…
Ao lado de cada poltrona pode-se encontrar duas tomadas de energia, proporcionando a facilidade de nunca se estar sem telefone celular ou internet.
O preço do jantar com quatro ou cinco boas opções de comida, gira em torno dos 18 dólares mais taxa e gorjeta. O Amtrak continua com o mesmo “glamour” de décadas passadas… o uniforme azul dos funcionários, com os seus característicos chapéus, os apitos…
Cruzamos os estados da Flórida e Georgia e chegamos em Columbia (SC) às 4:00 da manhã de segunda-feira.

Dia 3 e 4 de outubro – Chegada em Columbia. O Fort Jackson é o maior centro de treinamento militar dos EUA. Meu filho, que já é Capitão há mais de tres anos, voltou da guerra do Afghanistão, terminou seu estudo avancado em FGt Jackson, SC e recebeu ordens de tranferência a Las vegas.. O que eles chamam de Permanent Change of Station (PCS).
Ficamos no nosso primeiro Hotel Hampton Inn. No jantar aproveitamos para comemorar os nossos aniversários em Myrtle Beach, SC, 3 horas de viagem de Columbia. A churrascaria RIOZ do amigo Sr. Orlando Priessler está localizada em frente do Broadway at the Beach, da praia mais badalada do Estado de South Carolina. Orlando, gaúcho de São Leopoldo, mostrou mais um complexo gastronômico que abriu – há menos de uma semana – O CAPRIZ, o mesmo nome de um restaurante que a família mantém há muitas décadas na sua cidade natal.
Dia 5 de outubro – Saímos de Columbia (SC) em direção à Nashville, Tennessee, capital da música country americana. Enchemos o tanque do BMW 745 LI. Pagando (dentro da base) $ 3.53 o galão da gasolina Premium. Passamos por North Carolina e à noite chegamos no Hotel Hampton Inn, de Nashville, TN. Após um maravilhoso café da manhã – até que meio parecido aos dos hotéis brasileiros – fomos caminhar pelo famoso “THE DISTRICT”, um quadrado de uns 8 blocos de quarteirões de Downtown que incluem três distritos históricos; Broadway, Second Avenue e Printer’s Alley. Já nas ruas, sentimos a forte presença do Country. Pessoas com botas, chapéus, cintos coloridos e camisas quadriculadas que decoram a região. E os chamados Honky Tonks e Dive Bars, com especial destaque para o Robert’s Western World, o melhor bar “western” dos Estados Unidos.
Mas, como não poderia deixar de ser, encontramos na Belcourt Ave., a BOMBASHA, a recém-aberta churrascaria brasileira, sob o comando do piauiense Airton Rodrigues. Após 12 anos de muito trabalho na construção, Airton abre o seu primeiro restaurante contratando – entre outros profissionais – o goiano Wesley Monteiro, garantindo a qualidade das carnes e do nosso melhor estilo brasileiro.
Ainda do estado do Tennessee registramos a presença dos nativos: Billie e Miley Cirus, Doly Parton e Elvis Presley.

Dia 6 de outubro – À tarde, cruzamos pela rota 24, um pedaço do Kentucky (terra natal do Presidente Lincoln), um estado de muita agricultura e bonitas fazendas. Dirigimos ainda pelo Estado de Illinois, até cruzar o Rio Mississipi com destino a St. Louis, Missouri. Nesta região registramos a gasolina (unleaded regular) a um preço de $ 2.99. Quando liguei para o Jorge Nunes (Publisher do ACHEI USA) dizendo que passava por St. Louis, ele me respondeu que eu estava no portal (ou portão) do Oeste. Na hora não prestei muita atenção – mas aos poucos fui entendendo a razão do arco de 192 metros de altura, considerado o monumento mais alto dos Estados Unidos, com um custo de construção (na época- 1963) de 13 milhões de dólares (hoje seriam 100 milhões) – alguma coisa como um símbolo de expansão para o oeste. De fato, o Arco de St. Louis pode ser considerado o portão do oeste.
A população da cidade é de 320 mil habitantes, mas somente o arco recebe mais de 4 milhões de visitantes por ano. Mais uma vez ficamos hospedados no hotel Hampton Inn, com jaccuzzi e piscina de água quente indoors – ao lado do arco. Tomamos a benção no Mississipii River, o maior rio dos Estados Unidos – que desde o seu início em Minnesota alimenta (com seus afluentes) 31 estados americanos, percorrendo 4.075 quilômetros até o Golfo do México Como o nosso antigo edifício do Suntrust (atual Bank of America) de Miami, o St. Louis Arch também muda de cor conforme a ocasião. Nesta época por exemplo, está meio vermelho alaranjado pela festa de halloween que se aproxima. Preocupado com a água ou o óleo do carro, perguntei ao meu filho (por diversas vezes) se não deveríamos fazer um check out. E ele sempre me respondia. Pai este é um BMW. E não há que se preocupar com óleo nos próximos 6 meses…

Dia 7 de outubro seguimos pela rota 29 através de Iowa, até Omaha (Nebraska), a terra do steak. No meio do caminho – ainda em Iowa – um imprevisto; a estrada estava interditada por umas 50 milhas… Aí o GPS nos enviou para um off road de terra, onde milhares de sapos atraídos pelo farol do carro cometiam um suicídio coletivo. Só escutávamos o papocar dos batráquios nos pneus do BMW. A estrada levava a lugar nenhum… voltamos e conseguimos um desvio até Omaha, Nebraska. O mais interessante é que a entrada para Nebraska foi somente para dormir. Para seguir o nosso roteiro, voltamos para Iowa, passamos pela cidade de Sioux City e de lá seguimos para Sioux Falls, em Minnesota, onde a gasolina regular continuava ao redor dos $3.00.

Próxima etapa: A chegada ao Monte Rushmore, onde existe uma escultura encravada nas pedras do BLACK HILLS – as faces de quatro presidentes dos Estados Unidos; George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln. Fomos também registrar a construção da maior escultura natural do mundo: Crazy Horse, o maior herói indígena da região.
E ainda, o Yellowstone Park em Wyoming e Montana, com neve o ano todo a uma altura de mais de 4.000 metros. O Yellowstone Caldera é o maior vulcão (ativo) do continente americano.
Após cruzar (de carro) os Estados da Flórida, Georgia, South Carolina, North Carolina, Tennessee, Kentucky e Illinois …

Dia 7 de outubro, acordamos em St. Louis, no Estado de Missouri e seguimos pela rota 70 até Kansas City. De lá, entramos na estrada 29, com direção à Omaha (Nebraska), a terra do steak.
No meio do caminho um imprevisto; a 29 estava interditada por umas 50 milhas – num off road a invasão de sapos… milhares de batráquios numa rua completamente escura – só se escutava o papocar dos sapos nos pneus do BMW. A estrada levava a lugar nenhum. Voltamos e achamos um “detour” até Omaha, a cidade que foi em 2008, considerada a terceira melhor cidade dos Estados Unidos para se viver – na versão da Kiplinger’s Personal Finance Magazine.
O mais interessante é que a entrada para o Estado de Nebraska foi somente para dormir. Mais uma vez no Hotel Hampton Inn, que além do café do manhã, oferecia piscina de água quente, jaccuzzi e internet.

Dia 8 de outubro – De Nebraska voltamos para Iowa, passamos por Sioux City, indo até Sioux Falls, em South Dakota. Preço da gasolina: ao redor dos $3.12 – Tarde da noite chegamos à Rapid City (SD) onde o nosso planejamento apontava dois dias de descanso. Quer dizer – nada de descanso – Dois dias de uma intensa programação para ver as belezas de um Estado voltado para a agricultura, mas que também investiu pesado no turismo. Viajar com pessoas de diferentes idades; dois adultos, dois teenagers e uma criança, requer muito equilíbrio emocional. Lógico que os primeiros dias foram de muitos desencontros e adaptações…

Dia seguinte – 9 de outubro – seguimos para o Mount Rushmore (ao lado de Keystone City), distante 25 milhas do centro da cidade de Rapid City. Uma manhã nublada e fria. Se dirigimos tanto para ver os presidentes esculpidos na pedra, nada mais saudável do que “tentar” e – com certeza – voltar no dia seguinte.
Nma escultura encravada nas rochas do BLACK HILLS (Mount Rushmore) a 1.745 metros acima do nivel do mar) estão as faces de quatro presidentes dos Estados Unidos; George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln – estes foram os escolhidos para representar os primeiros 150 anos da História Americana e de sua herança cultural. A ideia surgiu de Doane Robinson para promover o turismo do Estado – e como atraiu… hoje são mais de 3 milhões de visitantes por ano.
Gutzon Borglum desenhou a escultura em 1927. O monumento só ficou pronto por volta de 1940. Gutzon não viu o final de seu trabalho. No meio do caminho faleceu – mas o filho, Lincoln Borglum e mais 400 trabalhadores perpetuaram o seu sonho.
Nem todo mundo ficou satisfeito com a decisão de se esculpir quatro presidentes (brancos) numa montanha sagrada – que – até hoje, tem um significado espiritual para os índios da tribo Lakota.

Dia 10 de outubro, ainda hospedados no Hotel Hampton Inn de Rapid City, voltamos ao Monte Rushmore. Dia lindo, com muito sol e ao meio dia, até um calorzinho agradável.
As diferentes atrações da região nos levam de volta à uma época de famosas batalhas indígenas, aos filmes de far-west, aos grandes heróis. Em todos os lugares, a presença dos índios…nomes dos lugares, comidas, monumentos e até uma certa espiritualidade indígena…das terras americanas: Gerônimo, Crazy Horse, Little Big Man, Sitting Bull (Touro Sentado) e outros .
Os famosos General Custer e William Frederick Cody (Buffalo Bill) que pegou este apelido por ter matado 4.280 bisões (mais conhecido como búfalo) em 18 meses.
Por falar em búfalo, almoçamos na pequena cidade de Keystone (ao pé do monte Rushmore) um tremendo steak de búfalo, servido por descendentes de índios Sioux, no Restaurante Ruby.
Logo após o almoço, um giro pela Rushmore Cave, uma mina abandonada no alto do Black Hills Mountain. O RUSHMORE CAVE é uma descida pelo interior da montanha com caminhos cheios de estalactites e estalagmites, percorrendo 1.113 metros, numa temperatura de 14 graus centígrados – 58 graus Fahrenheit (todo o ano). O preço da entrada (ticket) é de: $13,50 por adulto e $ 7.50 por criança (até de 13 anos).
Ao lado da caverna (no topo da montanha) outra atração disputada pelos turistas; O Soaring Eagle Zipline, uma cadeira (aérea) pendurada num cabo de aço levando os mais corajosos através de vales e montanhas, numa floresta cheia de pinheiros, a uma velocidade incrível. Vale a pena! Os preços: adultos $ 10.50 e crianças $ 6.50

CRAZY HORSE
Após diversas e intensas manifestações de descontentamento por parte dos descendentes dos Sioux, em relação a escultura dos presidentes no Mount Rushmore, o escultor Korczak Ziolkowski e o chefe da tribo dos Lakota; Henry Standing Bear começaram oficialmente a escultura do Memorial Crazy Horse, no dia 3 de junho de 1948. Localizado entre Custer e Hill City, a 17 milhas do Mount Rushmore, o objetivo do memorial é homenagear, honrar e preservar a cultura, a tradição e a história de vida dos índios norte-americanos.
Korczak recusou as doações de empresas (iniciativa privada) e do governo americano. Talvez com medo de que a história pudesse ser distorcida, hoje a fundação dá continuidade (após 63 anos de trabalho) com a viúva e os dez filhos do escultor, vendendo peças indígenas e com o compromisso de seguir a filosofia de: Dar continuidade à criação da maior escultura natural do mundo, homenageando o espírito do legendário lider Lakota, Crazy Horse – Oferecer um programa cultural e educacional para encorajar a harmonia e reconciliação entre os povos de todas as nações – Preservar a arte e cultura (artesanato) através do museu do indio norte-americano – Criar uma universidade indígena norte-americana e um centro de treinamento médico indígena.
CRAZY HORSE foi o chefe da batalha do Little Bighorn, a guerra também conhecida como; Custer’s Last Stand, uma reunião entre os índios Lakota (Sioux), Cheyenne e Arapaho que derrotou as forças do General George Armstrong Custer (a famosa Sétima Cavalaria). A história registra que o chefe Sitting Bull foi morto pela Cavalaria. Antes de morrer fez a profecia de que um grande guerreiro iria aparecer para liderar todas as tribos da nação Sioux. Quando ainda menino, Crazy Horse escutou a profecia e teve uma visão de um índio montado num cavalo dourado ornamentado com penas de gavião.
Já adulto, tem um inimigo; seu primo Pequeno Grande Homem, que derrotado foi banido tornando-se um dos batedores da cavalaria. No forte, Pequeno Grande Homem conta aos comerciantes que existe ouro em Black Hills, a terra sagrada dos Sioux. Os garimpeiros invadem a terra dos índios – É quando Crazy Horse em 1876, reúne seu povo e vence a famosa Grande Guerra dos Sioux – conforme a profecia.
Crazy Horse morreu assassinado com uma facada nas costas no dia 6 de setembro de 1877 e Korczac nasceu 31 anos depois no mesmo dia 6 de setembro – muitos nativos acreditam que ele foi predestinado a esculpir esta estátua.

Dia 11 de outubro – após percorrer (de carro), os Estados da Flórida, Georgia, South Carolina, North Carolina, Tennessee, Kentucky, Illinois, Missouri, Kansas, Nebraska, Iowa e South Dakota, saímos da cidade de Rapid City (Mount Rushmore) com direção a Cody, uma cidade com menos de 10 mil habitantes, no Estado do Wyoming.
Pegamos a Rota 90 e fomos até a 14-16. Tarde da noite, no escuro, cruzamos o Big Horn Mountain. Foi quando eu comentei com o Carlinhos (meu filho) : que montanha diferente… é toda branca… Lógico, estava coberta de neve e não podíamos imaginar que – saindo de Miami – encontraríamos nesta época do ano, neve… numa altura que variava entre 13.167 pés (4.013 metros de altura) e 9.033 pés (2.950 metros) – O carro simplesmente ia subindo … e subindo…
Dia 12 de outubro – CODY – No mapa parecia a melhor cidade, base para a nossa exploração ao Yellowstone Park. O nome da cidade é uma homenagem a William Frederick Cody, o lendário Buffalo Bill, que nasceu no Território de Iowa, hoje Estado de Iowa. Cody foi um caçador, soldado e showman. Uma das figuras mais interessantes do velho oeste que, entre muitas homenagens (nos EUA e Europa), recebeu do governo uma medalha de honra pelos serviços prestados ao exército americano.
Buffalo Bill viajou por diversas regiões e por dez anos, apresentou o WILD WEST SHOW, onde permanentemente exibia o escalpe de um guerreiro Cheyenne, afirmando que aquela era a sua vingança à morte do General Custer – aquele que fora derrotado e morto na Grande Batalha de Black Hills, pelas mãos do nosso mais recente herói, Crazy Horse – veja última edição do WWW.ACHEI USA.COM.
Mais tarde ele criou o BUFFALO BILL WILD WEST, uma espécie de circo, que circulou por todo o país, servindo (no futuro) de inspiração – em filmes – para diversos diretores de cinema e produtores de Hollywood.

E, foi exatamente na cidade de Cody que pela primeira vez, ficamos num hotel fora da cadeia Hilton. Convenci meu filho de que a aventura, o desconhecido, seria mais interessante do que qualquer planejamento. A divergência entre a cabeça de um civil e um militar… Foi ali que descobrimos o Cody Hotel, um luxuoso “Cinco Estrelas”, cheio de figuras tradicionais do oeste, com uma decoração mantendo as tradições do final do século dezenove, início do século XX. Hóspedes e funcionários vestindo aqueles jeans de cowboys, cintos prateados, chapelões e botas. Ao acordar, cruzando com outros turistas, o tradicional cumprimento: Howdy!!!!
Após o café da manhã, uma rápida sauna e um pulo na piscina, seguimos para o Yellowstone Park. Foi o mais longo trajeto de nossa viagem – tamanha a beleza do local… A cada curva um novo cenário, que nos obrigava a parar e tirar uma foto. Até ali eu não sabia que estávamos ao pé das Montanhas Rochosas (Rocky Mountains) a uma altura de mais de 4.000 metros.
No caminho, a primeira surpresa; a imagem de um homem andando sobre as águas de um rio. Parecia uma miragem. Pensei que era algum boneco ou alguma propaganda. Mas não….era de fato, um fotógrafo andando num caminho de pedras que os índios construíram, atravessando toda extensão de um rio. O interessante é que não eram grandes pedras… grotescas. Mais pareciam milhões de pedrinhas criando caminhos sinuosos dentro do rio. Mais tarde descobrimos que aquele caminho era usado para um torneio anual de pesca.
A estrada 14-16 não oferecia muita segurança. A cada momento pensávamos que cairia uma pedra gigantesca em nossas cabeças. Túneis atravessando as rochas, sem muito acabamento – mostrando que, ao redor, tudo era natural… sem aquelas falsidades características dos cenários americanos. Enormes precipícios… a um dado momento, paramos para tirar uma foto e estávamos acima das nuvens, numa mistura de fogg, neve, depois chuva e visibilidade zero. Na primeira descida, após uma curva, um raio de luz anunciando um sol distante, brilhante… um dos espetáculos mais lindos que já presenciei em minha vida. A sensação de estar no topo do mundo, vendo o planeta terra lá em baixo, ensolarado. Aí, já estávamos a uns 4.000 metros de altura . O ar já dava o sinal de um maior cansaço até entrar no portão Leste do Yellowstone Park – que tem 4 acessos: Norte, Sul, Leste e Oeste. A entrada Leste é pelo Estado de Wyoming, onde estávamos hospedados. O parque está situado entre os Estados de Montana, Wyoming e Idaho.
Na entrada, uma situação cômica. Meu filho mostrou os documentos de militar e a “ranger” disse que nós não pagaríamos porque ele estava sendo transferido para Las Vegas??? servir num outro posto do exército. Foi quando eu perguntei – e se nós voltarmos amanhã, temos que pagar? Se você não passar por esta guarita pode acontecer uma situação de “outra transferência”… ou seja, insinuando de que, o próximo “ranger” iria deixar passar… mas se fosse com ela, não seria possível. Funcionários das forças armadas “em transferência” não pagam pedágio através dos parques americanos.
Ela foi super gentil. Pegou todos os mapas possíveis e imaginários e alertou que não tínhamos correntes nos pneus, sendo portanto impossível passar por uma determinada estrada, onde supostamente aconteceria uma tormenta de neve.
O Yellowstone Park é o primeiro parque Nacional americano. Criado em 1872, recebeu este nome pelo Rio Yellowstone que corre por quase toda a região. É ainda composto de montanhas, cachoeiras, lagos, uma das maiores florestas petrificadas do mundo e, os famosos geisers. São 55 quilômetros de largura por 72 quilômetros de comprimento ,em cima do maior vulcão do mundo: o Caldera Volcano. É um espetáculo único – um anel de fogo circundando diversos pontos numa das maiores atrações turísticas dos Estados Unidos, O ponto mais famoso é o Old Faithful Geiser. E, como não poderia deixar de ser, o americano criou um verdadeiro espetáculo com previsões exatas de erupção. Um enorme relógio anunciava quando seria o próximo show da natureza. O nosso, marcado para as 4:20 da tarde atrasou e o locutor durante os 4 minutos se desculpou dizendo que aquilo era atípico, etc e tal…De repente um enorme jato de gazes e água quente, sai em erupção. Parecendo de fato que o vulcão iria explodir… mas a explosão foi de alegrias… palmas… entre turistas de todo o mundo.
No caminho, fomos observando placas anunciando a presença de animais selvagens. Durante algum tempo não vimos nem um passarinho. De repente aparece um corvo monstruoso. Parecia que estávamos sendo invadidos – como no filme The Birds (do Hitchcock). Maiores do que os nossos tradicionais urubús do Brasil, os corvos andavam (sem levantar vôo) pelas estradas, subiam nos carros e pareciam estar num eterno bate papo. A partir daí começamos a procurar o Zé Colmeia e o Babalú… personagens já bastante conhecidos de nós, brasileiros.
De repente uma manada de bisões (os famoso búfalos americanos) andando em direção à estrada. Um espetáculo que não poderíamos deixar passar. Esperamos uns dois minutos e eles cruzaram. Tranquilos, gordos e mansinhos. Pareciam tão amiguinhos – até dava vontade de brincar. Foi quando um deles, preocupado com a segurança do seu baby (de algumas toneladas) se enfurece e dá uma virada brusca – aí, corremos para o carro. Mais tarde, numa das lojas de souvenirs do parque, vimos alguns filmes mostrando a ferocidade e o perigo que turistas experimentaram no passado. A partir daí, ficamos de olho nos ursos, veados, lobos e raposas.. que cruzaram os nossos caminhos..
Após esperar pelo “Old Faithful Geiser” entrar em erupção, voltamos tranquilos para a saída do parque. Olhamos o relógio e planejamos que seria mais rápido voltar pelo caminho proibido – já que, aparentemente, não havia qualquer tormenta de neve e o carro – lógico, era um BMW – deveria estar acostumado a qualquer tormenta européia. Então (após uma votação), voltamos pelo caminho mais curto e mais perigoso. Eu e o meu filho Carlinhos, sabíamos que este caminho seria o mais difícil, o mais cansativo e estressante. Mas, como somos meio parecidos, encaramos a jornada. Após muito sacrifício chegamos à saída (do lado leste) do parque – Ao chegar, vimos uma placa de CLOSED. Fechado, pela tormenta de neve…
Mas qual tormenta? E aí? como sair do parque? Encarar mais 4 ou 5 horas – no escuro – de uma TORMENTA???? um casal de namorados nos seguiu de carro e perguntou como sairíamos daquela situação – No idea….
Aí, poderia dar um pânico em qualquer pessoa normal – mas não para um soldado – que voltou da guerra do Afeganistão e um “civilian” meio louco, COMO EU. Vamos raciocinar… com duas crianças dentro do carrro, sem pneus (correntes) de neve… e aqueles animais que anunciaram que iam cruzar nos nosso caminhos…O que fazer????
Foi quando eles começaram a aparecer – pela primeira vez na minha vida cruzei com um “Elk”, um viado gigantesco cheio de chifres – enormes – encarando o BMW. Enquanto ele não saiu da estrada nós não piscávamos. Aquele silêncio mortal… Parecia um filme de terror… a cada curva, um deslizamento e o perigo aumentando…
Liguei para um número de telefone, que me informou; devido à tormenta de neve, a melhor saída seria por Montana (norte do parque), umas 3 ou 4 horas de direçào na estrada – no meio da noite e da tormenta…
Numa velocidade que variava entre 20 e 30 milhas por hora conseguimos sobreviver à tormenta…
A um dado momento o carro de um RANGER nos acompanhou e disse que, se chegássemos à Mammoth Hot Springs, estariamos salvos…sairiamos pelo estado de Montana.. e não importando o tempo, estaríamos VIVOS.
O final da história é que chegamos ao hotel às duas da manhã – sãos e salvos….

Após a visita ao Mount Rushmore, em South Dakota, e de uma inesperada tempestade de neve no Yellowstone Park, em Montana, deixamos o nosso hotel no dia 14 de outubro, na cidade de Cody, em Wyoming, em direção a Salt Lake City, Utah.
Os limites geográfico dos mapas dos estados de South Dakota e Wyoming têm o mesmo formato. Parece que foram planejados numa prancha de arquitetura. São exatamente retangulares, quase quadrados.
Segundo o mapa, continuaríamos a dirigir para Utah, ladeando as Montanhas Rochosas. Àquela altura já estávamos acostumados às manias de cada um, e a viagem ficou mais prazeirosa. Mais cantoria, mais brincadeiras e já o gostinho da saudade.
A estrada, com retas incríveis num imenso planalto, já mostrava uma diferença de vegetação. Lembrava o sul do Brasil, os pampas gaúchos, ou a savana argentina.
De um lado, o horizonte retilíneo. Do outro, à distância, as famosas Montanhas Rochosas.
Ao cruzarmos a cidade de Evanston, no extremo sul de Wyoming, o trânsito na estrada 80 estava completamente parado, com barulho, gritos e diversos carros de bombeiros piscando à frente. Pensei em dar meia volta, para não estragar o passeio dos meninos. Tudo o que não queríamos era ver cenas de acidentes graves ou sangue pelo meio do caminho.
Pelo barulho, a coisa deveria estar bem feia. Diversos carros de polícia interdivam a estrada. Lembrei de um amiga, Suely Togeiro, que mora em São Paulo, e sempre me dizia que um simples café derramado na perna de um motorista na Dutra (rodovia que liga o Rio de Janeiro a São Paulo) ocasionava um congestionamento que atrasava a viagem em duas ou três horas.
Mas, não dava mais para voltar. E assim seguimos caminho. Saí para perguntar ao policial mais perto como tinha sido o acidente.

Homecoming
Não, não é um acidente, é o Homecoming.
Para quem não sabe, o Homecoming é uma festividade tradicional entre universidades, faculdades e até high schools americanas, onde uma escola anuncia a nova classe do ano letivo com uma festa, que inclui uma parada com banda de música, um jogo de futebol americano (normalmente), a coroação de uma rainha (queen), de um rei (king), e ainda uma apresentação especial de dança.
Só que na cidade de Evanston, a festa era animada pelos dois carros de bombeiros, as charretes, os cowboys (vaqueiros), vacas, bois, os garis, os dois times de futebol e todos os rednecks possíveis e imaginários interditando a estrada, criando um barulho ensurdecedor – um espetáculo único!
Da estrada liguei para o amigo Edson Lamardo, que saiu de moto de Fort Lauderdale e estava numa tenda com mais de 600 motociclistas no estado do Colorado, esperando pelo Joe Menezes, proprietário da loja Via Brasil, em Miami. Os dois haviam combinado viajar de moto até Los Angeles. Também troquei ideias com o cearense Alfredo Abreu, que escolheu a mesma época do ano para rodar de carro mais de 8 mil milhas pelos EUA.

Salt Lake City
Salt Lake City, cidade que concentra o maior número de mórmons nos Estados Unidos
Chegamos em Salt Lake City mais cedo do que havíamos planejado. Já estávamos ficando profissionais em estradas e conseguíamos administrar melhor o tempo de cada parada etc.
Voltamos para a cadeia Hilton de hotéis. O carro estava completamente sujo de sal, de neve, chuva e lama.
Enquanto os meninos faziam compras num shopping ao lado do hotel, fomos lavar o carro. Na entrada do car wash perguntamos à funcionária do balcão (que mais tarde descobri ser mórmon) se o sistema era “touch free”. Ela deu uma gargalhada e não conseguia mais parar de rir. E toda hora repetia: “Touch free? Touch free?” E tocava sugestivamente o próprio corpo.
Como poderia uma religiosa mórmon ter tamanha picardia?
No hotel, a recepcionista só faltava pular o balcão e com um sorriso permanente fazia de tudo para nos agradar. Eu disse: “Já sei, você é mórmon e por isto que é tão feliz!”
Salt Lake City é a cidade que abriga o maior número de mórmons dos Estados Unidos. Alguns poucos ainda praticam a poligamia. De uma regra geral, desenvolveram uma cultura única com um extraordinário senso comunitário. Dedicam a maior parte do seu tempo servindo à igreja, e os jovens, quase sempre, optam por viajar pelo mundo pregando a sua doutrina. No Brasil, podemos identificar os jovens mórmons pelas suas calças escuras, camisas brancas de mangas curtas, sempre pedalando em diferentes bicicletas. Eles têm uma “Lei de Saúde”, que abomina as bebidas alcoólicas, cigarro, café, chá, ou qualquer substância que vicie.
Daí a explosão de alegria e liberdade da senhora do car wash, que repetia: “Touch Free! Touch Free!”
Salt Lake City foi uma das cidades mais bonitas e de maior religiosidade de nossa viagem. No dia seguinte fomos para Las Vegas, a Cidade do Pecado.
Durante a viagem, já tínhamos a manha de controlar os horários, os mapas, a internet, as pesquisas de hotéis, qual o melhor local para comer e os pontos mais tradicionais de cada cidade.

Las Vegas

Em Las Vegas, no estado de Nevada, resolvemos ficar numa região mais familiar, um pouco distante da Strip, a rua principal dos cassinos, e nos hospedamos em Henderson, o local onde mora o casal Ciro e Cristina Batelli.
O nosso amigo Mr. Vegas (recentemente entrevistado por Tonia Elizabeth para o AcheiUSA) não estava na cidade. Como sabemos, ele está gravando uns especiais para o programa do Faustão, mostrando curiosidades pelo mundo. Mas conseguimos falar com a Cristina, sua esposa. Ela deu um apoio logístico, e combinamos sair no dia seguinte para conhecer a cidade.
Liguei para o Adam Gomes, filho do nosso amigo Luizinho, de New York. Eles abriram uma churrascaria, a Via Brasil, localizada no 1225 South Fort Apache Road, a dez minutos da Strip.
A Strip, entre a Sahara Avenue e a Russel Road, é a rua principal de Vegas. A rua do pecado, dos cassinos, das lindas prostitutas, dos bares, bebidas, drogas e shows. Está situada numa região de mais ou menos uns cinco quilômetros de extensão. Os grandes hotéis e cassinos da cidade estão localizados nessa área. Para se ter uma ideia, dezenove dos 25 maiores hotéis do mundo estão localizados na Strip, totalizando uma oferta de 70 mil quartos.
O Adam me disse que o pai, Luiz Gomes, e o sócio (no restaurante Plataforma, de New York) João de Matos estavam hospedados no Arias. Ligamos para o Arias, reservamos cinco lugares e fomos jantar num dos mais luxuosos cassinos de Las Vegas. A um preço de 40 dólares por cabeça, pode-se comer uma lagosta, stone crabs e todos os frutos do mar (ilimitados), com diversas opções de comida pelo sistema all you can eat. Além disto, por toda a noite, o vinho é de graça.
Quase impossível encontrar os amigos Luizinho e João de Matos num cassino de Las Vegas, entre mais de 500 mesas diferentes. Uma verdadeira loucura. Andamos pela Strip e conhecemos os hotéis: Mandala Bay, Sahara, Caesar Palace, onde Ciro Batelli foi durante muitos anos vice-presidente, The Venetian, New York, New York, uma réplica perfeita da Big Apple, Luxor, com sua tradicional pirâmide do Egito, Paris, com sua Torre Eiffel de 140 metros de altura, Excalibur, um verdadeiro castelo medieval, Flamingo, onde originariamente foi rodado o filme Ocean’s Eleven, MGM Grand, o maior da cidade, e o Bellagio, a construção mais cara e luxuosa até agora.
Las Vegas oferece diversão para toda a família. Alguns cassinos têm parques temáticos e parquinhos de diversão para as crianças. Até os postos de gasolina oferecem opções de jogo, com muitas máquinas caça-níqueis etc.
A viagem parecia não ter fim. Após 18 dias na estrada, começamos a sentir saudades da nossa caminhada, das nossas manias. No MacCarran International Airport, a despedida das máquinas caça-níqueis. Voamos para Los Angeles e de lá voltamos para Miami.

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